quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Eheu! - Ceslaw Mislosz

É verdade, nossa estirpe se parece com as abelhas.
Colhe o mel da sabedoria, carrega e fecha em favos.
Posso ficar horas vagueando no labirinto
Da Biblioteca Central, de um andar para o outro.
Mas ontem, em busca da palavra dos mestres e profetas
Atingi as regiões do alto
Não visitadas por quase niguém.
Compulsava os tomos e não conseguia ler nada,
Porque as letras desbotaram e sumiram das páginas.
Eheu! - Exclamei - é a isto que chegastes?
Vós, ó digníssimos, vossas barbas e perucas,
Noites passadas à luz da vela, aflições de vossas esposas?
A mensagem da salvação calou-se então para sempre?

Naquele dia faziam doce em casa
E vosso cão adormecido junto ao fogo despertava,
Bocejava e vos olhava, como se soubesse.

*Transcrito do livro: MILOSZ, Ceslaw. Não mais. BSB: UnB. 2003. p. 103.

Poema de 1994. O olhar do cão, como se soubesse, é o melhor... vou afagar o meu canino.

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