terça-feira, 4 de setembro de 2007

Excerto da seção de Economia do Correio de Domingo (02/08/2007) p. 27:

"...existe uma discussão política em torno do gasto da União, contaminação que atrasa a tomada de decisões..."

Não haveria o gasto da União de ser discutido politicamente? Ou as decisões de como gerir as políticas deveriam se limitar a alguma técnica de distribuição de recursos?

A política atrapalha a eficiência? Talvez... normativamente, tenderia a gerar conflitos que buscam consensos para que as políticas sejam implementadas o mais democraticamente possível. Isso demanda mais tempo, claro. Há uma assimetria no volume das vozes que se pronunciam a respeito disso, fazendo, muitas vezes, com que as decisões tomadas dêem consecução a interesses específicos, se afastando da busca por um interesse geral. Por isso é necessária a participação.

A busca de um bem comum é tida por alguns como ingênua, por ser inalcançável. Realmente, não há uma vontade geral, algo que vá agradar a todos irrestritamente e fazer com que todo mundo fique pulando de alegria. Porém, há metas e prioridades para cada governo eleito legitimamente. E ainda assim, muitas vezes não se cumpre as metas, ou elas são apenas ilustrativas... Desse modo, essas diretrizes podem contribuir para a parametrização do que deve ser levado em conta na hora de tomar as decisões políticas quanto às políticas públicas, mas por outro lado, nem sempre representam as reais intenções e desejos do governo e da sociedade. Acompanhar a execução das políticas públicas é sempre útil para ver quais são as reais prioridades.

Não se trata de uma simples prestação de serviços, são Políticas que toda a sociedade toma, por meio de seus entes representativos, com o fim de gerar benefícios para a própria sociedade. Não digo com isso que todos as políticas públicas devem ter objetivos generalizantes, mas são, no fim das contas, todos os cidadãos que empenham seus recursos para o financiamento dessas políticas e, assim, mesmo os benefícios concentrados em grupos específicos, são um benefício para a sociedade, pois o alcance de melhorias, principalmente para os setores mais necessitados de recursos, gera benefícios; nem que seja em longo prazo.

Mas para que esses benefícios não sejam tidos como ônus, é necessária a participação e participação pressupõe discussão política, não há como fugir disso, a não ser que se queira ficar à mercê de decisões tomadas sem uma visão mais ampla do assunto. Há setores em que uma participação mais ampla realmente trava o funcionamento da máquina administrativa, mas onde há abertura deve-se ocupar os espaços. Talvez quem disse a frase que citei no início tivesse em mente as discussões políticas motivadas por interesses não-coletivos.

Porém, ter a discussão pólítica como uma contaminação no setor público é querer afastar ainda mais a possibilidade de participação da população nas decisões governamentais. Os grupos de interesse sempre tentarão influenciar a gestão das políticas, mas a sociedade civil deve se conscientizar e participar, pois se afastando do acompanhamento das decisões políticas, só lhes restará reclamar depois de nada mais poder ser feito.

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