quinta-feira, 30 de junho de 2011

O objetivo é valorizar o casamento ou esvaziar seu conteúdo?

Quando se tem uma aspiração, um desejo, uma vontade - e se achamos que vale à pena alcançá-los - estabelecemos metas para atingir esse objetivo.

No entanto, deve-se considerar as consequências das escolhas que se faz para atingir nossos objetivos e ser sincero e honesto consigo mesmo e com os demais. Vejamos um exemplo:

Se eu quero comer bolo, eu tenho basicamente duas opções: 1) Faço uma receita caseira de bolo; 2) Compro na doceria. Mas se eu, querendo comer bolo, utilizar uma receita de pastel, eu não terei bolo para comer. Eu posso até dizer pra mim mesma que aquilo o que preparei é bolo, colocar confeito e chantili por cima, mas não importa o que eu faça: não será bolo o que estou a comer. E qualquer pessoa que, ao ver o que estou comendo, disser que não estou comendo bolo coisíssima nenhuma estará dizendo a verdade. E eu, ao dizer que "Sim! É bolo o que como", estarei mentindo. Posso até zangar-me, brigar, espernear, fazer um movimento em prol da modificação dos livros de receita para incluir no índice de bolos a receita de pastel com confeito e chantili. Mas, para o infortúnio da minha doce ilusão, o que comerei chamando de bolo não será nada além do que pastel com confeito e chantili.   

Pode ser que eu tenha utilizado a receita de pastel por engano, por falta dos ingredientes para fazer bolo e até por acidente. O resultado pode até ter ficado muito saboroso e eu tenha vontade de sempre ter isso por sobremesa. Mas o fato é que se eu realmente quero comer bolo, não será essa a receita a ser feita. E se eu faço essa receita para oferecer aos meus amigos, será desonesto dizer-lhes que o que lhes sirvo é bolo.

O que querem fazer com o casamento é coisa parecida. A coluna do Luís Fernando Veríssimo de hoje, nO Estado de São Paulo, comenta o assunto e fala que é notável que "Com tantos casais heterossexuais dispensando o ritual matrimonial para viverem juntos, a insistência dos gays em se casarem como seus pais deveria aquecer o coração dos mais radicais dos bispos.". O espanto do colunista vem do fato de que, como ele evidencia em seu escrito, "Era de se esperar que quem escolheu um relacionamento sexual, digamos, anticonvencional, muitas vezes tendo que enfrentar a incompreensão ou a ira dos conservadores, quisesse distância do que é, afinal, o mais 'careta' dos ritos sociais. Mas não. Querem o tradicional." Ao fim da coluna, diz que "No fim as pessoas querem significado. Querem que o valor do que fazem seja enaltecido pela cerimônia".

Vê o resultado da falta de pensamento consequencial?

Veja o que diz a Psicóloga Cláudia Morais [http://consultorio.blogs.sapo.pt/73327.html]:

"pesquisas (...) mostram que a maior parte dos jovens aponta os pais (ou outros adultos próximos) como as pessoas que mais influenciam as suas vidas, em particular no que diz respeito aos comportamentos relacionados com a sexualidade. Muitos pais sentir-se-ão com certeza incompreendidos pelos seus filhos. Alguns acharão até que representam sistematicamente o papel de "chatos", mas boa parte do comportamento dos adolescentes é modelado pela influência parental. Claro que é preciso uma boa dose de paciência e perseverança, mas o mais importante é tentar criar um ambiente suficientemente confortável e acolhedor para que os adolescentes sintam que existe um porto de abrigo a que podem recorrer quando se sentirem desamparados. (...) Mas se é verdade que a relação entre pais e filhos durante a adolescência requer alguma tolerância e sensibilidade, é importante lembrar que a estabilidade emocional e a estruturação da personalidade dos jovens dependem da existência e cumprimento de regras. Estas devem ser claramente definidas, assim como o sistema de aplicação de castigos e recompensas. Afinal, uma das competências que se espera que os filhos adquiram antes da idade adulta é o pensamento consequencial, imprescindível à tomada de decisões e preventivo dos comportamentos de risco."

A formação moral do indivíduo depende de regras. As máximas que giram em torno do "você faz o que quer" acabam contribuindo para a imaturidade decorrente do não-desenvolvimento de pensamento consequencial. E não se pode legalizar os erros a que essa falta de pensamento leva.

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